Ora então, continuando com as
novidades!
Resumidamente vou falar do trabalho.
O nosso horário é das 7.30 às 14.30. Nos últimos dias temos apenas estado a
fotografar peças de um pequeno Museu, o
Museum of Omani Heritage, museu esse que vai fechar e algumas das peças vão
para o megalómano National Museum que
ainda está em construção. Todas as peças que vão constar do acervo deste museu
vão ser inventariadas e avaliado o seu estado de conservação por nós. O nosso
local de trabalho é a reserva do Ministério da Cultura cá do sítio, onde já
estão algumas das peças do futuro Museu. Portanto, é isto que tenho feito e que
vou fazer nas próximas semanas.
Aqui não há muita comida
internacional, quase tudo é comida indiana e muito picante! Até agora tem
sabido bem, mas hoje já começou a cansar! Pedi uma salada de frango porque o
corpo já me está a pedir por favor para parar com isto, e até o frango da
salada era “on fire!!!”. O que vale é que o pequeno-almoço é continental! Ah é
verdade, também já fomos ao Mac Donalds, mas até aí paira o cheiro a incenso e
especiarias. Não cheira a Mac Donalds! Incrível, um Mac donalds que não cheira
a Mac donalds……
As temperaturas também têm subido,
têm estado 50ºC durante o dia e 40 e poucos à noite… ir à praia é praticamente
impossível. Dez minutos ao sol deveria resultar em insolação e internamento
imediato! Aqui a época alta do turismo, é entre Outubro e Março quando as
temperaturas estão mais amenas.
Aqui o mercado é maravilhoso! Já
comprei especiarias!! A palavra mais ouvida é “PACHEMINA!!! PACHEMINA!!!” , ainda
não comprei nenhuma. Tem que se regatear e eu não tenho muita paciência… Sempre
que nos perguntam de onde somos e dizemos PORTUGAL, só falam no raio do
Cristiano Ronaldo!
O nosso motorista não fala inglês,
por isso tem sido uma aventura! Ele fala connosco na língua dele como se o
percebêssemos! Sempre que queremos ir a algum lado fora do trajecto normal
temos que pedir a alguém nativo que também fale inglês para conseguirmos
comunicar com ele. Ele também não é muito amigo de trabalhar… fica amuado quando
queremos ir a muitos sítios e às vezes desaparece… Numa dessas vezes que nos
deixou pendurados tivemos que apanhar um táxi! Foi uma viagem surreal! Para já,
não têm taxímetro, e antes de começarmos a viagem temos de regatear quanto vai
custar. Depois a decoração e o cheiro do táxi eram qualquer coisa! Tudo forrado
a pelinho (até o volante), as palas de fazer sombra forradas de um papel
plástico encarnado e o cheiro era forte a indiano! O motorista era uma figura!
Era o Abdul! Tirei-lhe uma fotografia (íamos tendo um acidente porque quando
lhe perguntei se lhe podia tirar uma foto ele olhava para trás todo contente a
rir mas claro que o carro continuava a andar!), depois publico no facebook!
Quando percebeu que éramos portugueses lá começou a história do Cristiano
Ronaldo e do Mourinho. Dizia: “Mourinho no good, Barcelona yes”, mas isto tudo
com uns gestos muito cómicos e um sorrisinho tolinho. Que risota durante a
viagem!
Só para fazer um bocadinho de inveja
vou partilhar quanto custa aqui a gasolina. Precisamente o equivalente aos
nossos 28 cêntimos (o litro)! Os carros são quase todos brancos e na maioria
jipes. Andam todos muito depressa e é só infracções atrás de infracções, muitas
buzinadelas e também já vi alguns acidentes aparatosos!
Finalmente, só queria dizer que
estamos mesmo em todo lado! Acho que foi no primeiro dia que cá chegámos que vi
à beira da estrada um restaurante com o símbolo de um galo de Barcelos e o
estabelecimento chamava-se Nando’s! Fantástico!
III
Já cá estou há dez dias e parece que
já vivi um mês de coisas aqui!
Comprei um guia de Omã na Fnac antes
de vir para cá. Um destes dias quando se estava a decidir onde íamos jantar
sugeri um restaurante que indicava no guia que me pareceu interessante. Dizia
que serviam comida típica Omanita e que a era servida em quartos privados no
chão e os clientes se sentavam em tapetes. Toda esta descrição fazia adivinhar
um ambiente típico das arábias tal e qual os cenários das mil e uma noites. Eu
já me estava a sentir uma autêntica Sherazade só com a ideia. Quando lá
chegámos ficámos perplexos! Não com a espectacularidade do sítio mas porque
aquilo era a maior espelunca que alguma vez vi! E ainda por cima tinha ar de
sítio de encontros furtivos. Fomos encaminhados por um indiano para um quarto
onde nos tínhamos que descalçar antes de entrar (imaginei logo a quantidade de
pés que já não tinham pisado aqueles tapetes imundos). O quarto tinha apenas
almofadas, duas caixas de clinex no centro e uma mini televisão a um canto que estava
a dar uma telenovela omanita. No quarto ao lado do nosso vimos entrar um casal.
Estávamos num sítio de engate certamente! O empregado veio-nos trazer a lista e
fechou a porta… Rimos tanto, tanto, tanto com aquela situação que nem nos
conseguíamos concentrar na lista e escolher alguma coisa para comer. Ficamos na
dúvida se conseguíamos comer ali tal era o aspecto da coisa. Todos os pratos da
lista tinham a fotografia ao lado e tinha tudo um ar de comida já mastigada.
Depois de muitas voltas dar escolheram-se os pratos. Já me doía a barriga de
tanto rir. O empregado (também descalço) serviu a comida numa bandeja gigante.
Uma das coisas que mais impressão me fez foi ele estar a pisar com os seu
“pezinhos” imundinhos a nossa mesa, quer dizer o tapete onde ia ficar o meu prato!
Quantos pés iguais aos dele ou piores não terão pisado o tapete antes de nós,
mas olha coração que não vê, coração que não sente! Posso dizer que apesar de
tudo a comida estava deliciosa e não me deu nenhuma dor de barriga!
Hoje mudámo-nos para a penthouse de
três quartos (no mesmo hotel) porque o Rui (o nosso “chefe”) vai voltar para
Lisboa. Agora ficamos nós as três aqui. Espero que corra bem. Um homem por
perto dá sempre alguma segurança. Agora somos só nós VS Omanitas! O apartamento
é muito bom e tem uma varanda com umas mesinhas com uma vista bonita. Só se vêm
casas brancas e o mar ao fundo.
Nos últimos dias aquela pica inicial
de andar sempre a passear depois do trabalho foi-se! Ando mesmo cansada!
Estivemos uma semana a dormir quatro horas por noite! Agora tem sido trabalho –
hotel, hotel - trabalho. No dia da folga é que aproveitei bem! Fomos dar um
passeio de barco. Na marina aqui de Omã só se vêm Ingleses turistas e Ingleses donos
das lojas (os nativos não são muito dados a desportos náuticos). Pela primeira
vez desde que aqui estou não me senti olhada como se fosse uma coisa esquisita.
Nunca me tinha sentido tão contente por estar no meio de beefs.
O barco não estava pronto à hora que
era suposto. Ainda esperamos uma hora no bar da marina, eis se não quando nos
aparece um inglês com um nariz num estado miserável do sol (estava tão
encarnado que parecia que ia cair de podre a qualquer momento), pediu muitas
desculpas pela demora e ofereceu tudo o que tínhamos consumido no bar e a
viagem também ficava de borla. Sim senhor! Gostei! Assim é que se tratam os
clientes!
Eu estava com muito medo da viagem, a
minha cabeça só imaginava tubarões que nos iam engolir o barco de uma vez só! O
condutor também era muito acelera. Fui o tempo todo muito contraída e bem
agarrada não fosse pular borda fora! Coletes salva-vidas também era mentira, ou
seja, se acontecesse alguma coisa ficávamos a boiar no meio do Índico entregues
a toda a bicharada que deve ali viver.
Claro que quando parámos perto de uma praia deserta para mergulhar eu
estava com este filme todo na minha cabeça e nem consegui desfrutar totalmente
a beleza daquele sítio. Os meus colegas afastaram-se do barco, foram a nado até
à praia, ficaram ali que tempos a ver os milhares de peixinhos de várias cores
e à espera de ver tartarugas. Na minha cabeça só estavam tubarões e barracudas.
Resumindo, nadei cinco minutos, subi logo para o barco e fiquei ali a morrer de
enjoo à espera que eles voltassem. O senhor do barco só me dizia: “Here no
shark!” “Os tubarões é só mais lá à frente!”, olha que realmente uma pessoa
assim fica muito mais descansada! “Eles estão só lá à frente! Não te
preocupes!”. Fora as minhas “panicações”o passeio foi realmente lindo e acabou
em bem com tudo com um grande escaldão!
A cultura aqui é tão diferente que às
vezes penso que é mesmo tudo ao contrário de nós! Por exemplo, eles dizem que
não com a cabeça quando estão a concordar, escrevem da direita para a esquerda,
entre outras! Uma coisa que ainda não consigo conter o riso quando vejo é
quando os homens amigos se cumprimentam. Eles dão o típico aperto de mão,
depois juntam as testas, esfregam os narizinhos e terminam com um beijo na
boca! Ora isto num país em que a homossexualidade é proibida por lei é muito
estranho… Alguns homens também andam na rua de mãos dadas ou só com as costas
das mãos encostadas! E lá vão eles muito másculos de mãozinhas dadas! Isto para
nós é muito estranho!
Num destes dias que fomos ao Lulu (é
o supermercado daqui) na hora de pagar, o Rui pagou com cartão e estava com
algumas dúvidas com o funcionamento da máquina. A rapariga da caixa (que estava
toda tapada como todas aqui) estava de costas para ele. Ele normalmente decide
dar-lhe um toque no ombro para perguntar como aquilo funcionava! Ela ficou
ofendidíssima! Repetiu o gesto dele mas nela própria e virada para nós, como
quem diz: “Ele tocou-me!!! Que m…. é esta?” O Rui pediu muita desculpa e quando
olhámos já estava um segurança perto de nós pronto a atacar! Mas felizmente
ficou por ali. As mulheres aqui que me fazem mais impressão são as que andam
todas mas mesmo todas tapadas, até a cara tem um véu preto. Parecem umas
assombrações a deambular, é que nem a ponta dos sapatos se vê porque aquilo
arrasta no chão.
Ainda não consegui visitar nenhuma
mesquita. É proibida a entrada de não muçulmanos. Pelo que me disseram só a
Mesquita do Sultão pode ser visitada por turistas.
IV
Com o trabalho, tem tudo corrido bem
ultimamente, um pouco mais lento do que desejava mas não é culpa nossa. O nosso
trabalho depende da organização de terceiros (o que é muito chato), organização
essa que não é das melhores. Aliás é um caos! Vou fazer um comentário feio e um
pouco ao estilo colonialista, mas esta gente é preguiçosa e não devem muito à
inteligência. Enfim não vou avançar muito com este tema porque tinha que
explicar um monte de coisas relativas ao trabalho para se perceber a burrice e
o deixa andar.
Neste campo dos Museus e da
conservação estão atrasadíssimos! Era preciso uma boa formação nesta área aqui
para estas bandas. Já me ri muito em visitas a Museus, tanto com a maneira como
os objectos estão expostos como com a atitude dos funcionários perante as
coisas. Já estive três dias inteiros em Museus só a fotografar peças e foi de
ir às lágrimas. Eles devem achar que somos uns doidinhos que vimos artilhados
com luvas e fotografamos os objectos com todos os cuidados, quando eles comem
no meio da sala de exposição e têm luzes fortíssimas a apontar para delicadas
fotografias que coitadas, já só têm fantasmas sumidos de pessoas nelas
representadas.
Já temos um motorista que dá uns
toques a inglês (ao menos consegue perceber as horas). Diz muitas vezes
“bérinice!!” (very nice), para ele é tudo very
nice, o tempo é very nice, aponta
para os carros e diz “bérinice!!, quando passamos pelo o centro comercial ele
aponta e diz “bérinice!!”. Quando está cansado e já não nos quer levar aonde
pedimos ou diz “no speak”, como quem diz: “não percebo o que vocês dizem” ou
aponta para a cabeça e diz “problem” como que diz… “Estou tão doentinho…” ou
diz: “mind sick”, coitado é doente da mente!! Nós somos as “ladies” e o quando se refere ao
Rui que já se foi embora diz “ma friend”. Ele já estava a criar uma relação de
amor com o Rui, já o tratava por “Boss” e quando ele foi embora ficou muito
triste e só dizia com uma ar muito em baixo: “ma friend go” e apontava para o
ar.
Na penúltima folga fui a Nizwa, uma
aldeia aqui perto. O motorista pediu se podia levar um amigo que falava bem
Inglês! Um bocado desconfiadas dissemos que sim tal é o desespero quando se tem
que comunicar! Apareceu no dia seguinte a dizer que estava com “problem” e a
apontar para a cabeça e que não conseguia conduzir, então teve que chamar outro
motorista do Ministério para ir connosco. Resumindo: o outro ainda falava menos
inglês, era um chato do pior que só nos queria ensinar palavras em árabe e
ainda comeu sandes do nosso farnel! Foi … uma cena de gritos!
A sociedade aqui é muito
estratificada e o tratamento que se dá às pessoas conforme a sua condição
social é bem diferenciado (são mesmo atrasados ainda). Aqui o que se considera
a ralé são os indianos e os paquistaneses. São eles que trabalham nas obras,
nas limpezas, a servir à mesa a vender no mercado e em todos os trabalhos que
os omanitas não querem fazer. São tratados a baixo de cão e normalmente nem a
um “Bom dia” têm direito por parte dos seus superiores. Confesso que isso me
faz muita confusão… e tenho pena.
O equivalente às nossas brasileiras,
ou seja prostitutas e caça nativos ou caça estrangeiros (perdoem-me as
brasileiras que não são nada disto) são aqui as filipinas.
Finalmente, temos as pessoas de cá,
uns mais pobres e outros mais ricos.
As betas e as tias de cá podem ser
observadas no centro comercial. Tal como as nossas (betinhas) andam em grupos,
soltam gargalhadas parvas e são muito histéricas (a adolescência pelos vistos é
parva em todas as culturas). Usam umas fatiotas mais chiques do que as outras
miúdas e andam todas maquilhadas. Usam também uma coisa qualquer por baixo do
véu que lhes faz um volume gigantesco na parte de trás da cabeça, ficam a
parecer saídas da guerra das estrelas. Então quando estão de óculos escuros à
Amália Rodrigues, que é como elas gostam de usar ficam uns autênticos ET’s. É
realmente muito estranho! Tenho pena de não poder tirar fotografias para
mostrar, é que esta gente e principalmente as mulheres não gostam de ser
fotografados. E se lhes pedimos dizem que não.
O preto é a cor do fato de todas as
mulheres, ricas ou pobres. Os homens andam todos de branco e com um chapelinho
ou turbante. É realmente atrofiante para os olhos ver toda a gente vestida de
igual, para procurar alguém no meio da multidão é do melhor! Os homens
omanitas, desde o motorista ao Ministro andam exactamente vestidos de igual. É
mesmo muito estranho!
No outro dia recebemos a visita no
trabalho do sub-secretário do Ministro da Cultura. Quando vi o senhor entrar
não lhe liguei nenhuma e disse apenas “Bom dia”, só quando vi a tratarem-no por
“your highness” e a levantarem-se todos é que percebi que se calhar devia ter
cumprimentado o senhor com outros salamaleques. Isto de andar tudo vestido de
igual é no que dá! Fez muita perguntas sobre o nosso trabalho e mostrou-se
muito interessado em tudo. Foi simpático.
Na folga de ontem decidimos
deixarmo-nos de passeios culturais e fomos mas é para a piscina da marina. Nada
de acordar cedo e descansar à séria! Combinamos com o nosso amigo” Bérinice!”
vir-nos buscar às 11h ao hotel. Ele às 9h ligou para o hotel a dizer que estava
com “problems” e que não podia vir. AHHH! Ficámos fulas! Sempre a esquivarem-se
do trabalho, a sério! Lá se arranjou um táxi de confiança aqui do hotel e
fomos. Nesta terra é impossível uma pessoa deslocar-se a pé com estas
temperaturas, 10 min. a andar na rua é quebra de tensão na certa!
Foi um dia muito bem passado mas
quase sempre dentro de água. Só ao fim do dia é que o sol estava minimamente
suportável. O dia na marina acabou com uma cena de um Inglês aos gritos com os
empregados de lá! Ele berrava : “Your lazy bastards!!!” ou seja “seus estúpidos
preguiçosos!”, foi demais, mas às vezes realmente é o que dá vontade de dizer
aqui.
Já estou em contagem decrescente…. 14
dias.
Que falta me faz tudo daí! Que
saudades de todos! Que saudade da comida e da minha casinha. Isto é conversa de
quem está há anos fora, não é? Mas estou realmente a sentir como se estivesse
há muito tempo longe! Talvez seja dos milhares de quilómetros que nos separam.
V
Está quase… Já com tudo arrumado e
muita roupa deixada para trás…
Foi uma boa lição para não me armar
em parva e trazer o guarda-roupa todo a trás! O que vale é que não trouxe para
cá os meus trapinhos preferidos. Encarei este abandono de roupa no apartamento
do hotel como uma arrumação ao armário, daquelas em que tiramos de lá quilos de
coisas que já não usamos e assim não tenho pena. Deixei as roupas mais coçadas
e velhas só.
Nesta ÚLTIMA semana não aconteceu nada de extraordinário. Está a
ser até agora uma semana de grande ansiedade e excitação por voltar. Não sou a
única, estamos todas assim. O tempo custou muito a passar e ainda está a
custar!
Estar longe de toda a gente custa
muito e por pouco tempo que seja é difícil. A nível pessoal posso dizer que me
ajudou a conhecer-me um pouco melhor e cresci mais um bocadinho, o que no fundo
é o objectivo de todos os desafios que encaramos e aceitamos ao longo da vida.
Vim para aqui cheia de medos, volto feliz. Feliz porque estive à altura do
desafio (acho eu), feliz porque senti o apoio de todos os meus amigos e família
que nunca se esqueceram de mim enquanto aqui estive. Obrigada! (Hoje estou tão
lamechas credo!!!) Foi bom sentir que faço falta, é feio dizer isto, mas
confortou-me. Porque eu senti muito a falta de todos!
Em relação ao trabalho, que foi a
razão que me trouxe a Omã, posso dizer que os objectivos desta primeira fase
foram superiormente alcançados. Resta agora saber se gostaram do nosso trabalho
e se seremos nós a intervir na segunda fase…
O ponto alto desta semana foi mais
uma vez o dia de folga, que foi também o dia mais cansativo de todos! Fui às
montanhas de Al Jabal Al Akhdar, ou mais conhecidas para os turistas como as Green Mountains. Posso dizer que de green tinham muito pouco mas mesmo assim
a paisagem é maravilhosa. Fomos com o melhor motorista do ministério (tem
carta) porque aquelas estradas não são para brincar e também foi uma das nossas colegas omanitas que serviu de
tradutora.
No cimo das montanhas vendem-se água
de rosas, chás uma fruta chamada but e alperces. Os buts são umas bagas
encarnadas muito doces. Os vendedores são na maioria miúdos, andam com os seus
baldes e alguidares muito encardidos a vendê-las. E aqui não há nada de lavar
frutinha antes de comer, é comprar, comer e não pensar muito no assunto. À
beira de uma das estradas vimos uns miúdos pendurados numa árvore que também
estavam a vender os tais buts. Eles pareciam que faziam parte da árvore e que
eram os frutos pendurados, as túnicas que vestiam eram na maioria da cor dos
troncos. É difícil explicar assim… Eram vários todos penduradinhos, numa àrvore
no meio do nada pronto!
Descemos a uma aldeia porque o
motorista queria comprar uma àrvore de Romã, e sabia quem as vendia numa tal
aldeia da montanha, mas não tinha bem a certeza onde era a casa. Em todas as
portas que batemos a perguntar se era ali as pessoas quase nos obrigavam a
entrar para dentro de casa para nos oferecerem água e café! A nossa colega
nativa explicou-nos que isso era normal e que devíamos aceitar porque se não é
considerado ofensivo. Mas ela lá deu a volta e disse que estávamos com muita
pressa! Depois de bater a duas portas encontraram a casa do rapaz que vendia
Romãzeiras.
A fruta aqui mais consumida são as
tâmaras. São muito boas mas fazem-me aftas. Outra coisa que se come e que tive
que comer… foi uma espécie de papa de tâmaras misturada com açúcar e mel. Até
aqui tudo bem. O pior é que aquilo é servido num alguidar onde todos metem o
dedo alegremente, lambem, voltam a meter o dedo. Enfim… uma nojeira. Mais outra
coisa que fiz sem pensar muito no assunto. Soube bem é o que importa.
Aprendi algumas palavras em árabe,
mas a maioria já me esqueci! As que me lembro são: salamalecum, que significa olá. Malecumsalam é a resposta para olá. Quando atendem o telefone dizem
sempre “salamelecum!” ou apenas “salam!”. Problema é moxquila, inchalá quer dizer se Deus
quiser, ou neste caso se Alá quiser! Massalama
é adeus, xucram significa
obrigado, mosca diz-se dubaba,
habibi é um termo carinhoso tipo querida, Ana significa eu (eu sei que sou Ana, ainda não estou
demente de todo, mas Ana aqui quer mesmo dizer a palavra eu). Arrui é irmão, souk é mercado. Laranja é
Portugal! Já posso portanto,
construir uma frase em árabe: Salamalecum! Ana vou ao souk onde há muitas
dubabas, espero que não haja moxquila. O meu arrui também lá está. Massalama,
inchalá!
Talvez tenha que aprender mais umas…
Apesar da quantidade de dias que aqui
estou, contínuo sem conseguir olhar com normalidade para a forma como as
pessoas se vestem. Todos os dias a caminho do trabalho quando estou no trânsito
e olho para os outros carros penso sempre que deve estar tudo a caminho de um
baile de máscaras! Estou fartinha de ver gente mascarada! Ansiosa por ver gente
vestida como deve ser!
Mais um apontamento cultural: os
homens aqui podem ter por lei até quatro mulheres! Mas claro que tudo depende
do dinheiro. A maioria deles ficam-se por uma ou duas! Outra aspecto muito
estranho para ao que estamos habituados… quer dizer… no fundo vai dar ao mesmo
mas não socialmente aceite por nós. Os homens mais ricos também costumam ter a
mulher em casa mas por fora bancam as amantes. E os pés de chinelo contentam-se
com apenas mulher e acabou-se. (que visão tão pouco romântica das uniões a
minha).
Se repararem bem, vivi um autêntico
Big Brother nestas cinco semanas: não vi familiares, amigos, nem namorado uma
única vez. Estive a viver numa casa com desconhecidas, trabalhámos juntas o que
é igual a 24 sobre 24 horas de convívio sob o stress de todas as condicionantes
anteriores. Posso dizer que não houve pontapés, gritos, choradeiras, discussões
por causa da loiça suja. Foi tranquilo. Só faltaram mesmo as câmaras a apontar
para nós e as idas ao confessionário: “Eu estou a ser eu mesma pá! O que sou
aqui sou lá fora pá!”
Espero que a viagem corra bem e
depressa. O nosso motorista hoje perguntou-nos se podia levar o filho mais novo
com ele quando nos fosse levar ao aeroporto porque o miúdo tinha pedido para
ir! Claro que dissemos que sim. Ele quer conhecer as ladies portuguesas J.
Assim termino o relato da minha
experiência em Omã. No meio de todas as saudades, lagrimitas e medos ficou a
fantástica experiência.
Até jáaaaaaaaaaa J