Se me dissessem à uma semana atrás que eu estaria aqui, não acreditava. Depois de passar um ano inteiro a desejar as merecidas férias, e a planear tudo ao pormenor para passar apenas quinze dias (que já valiam ouro!) na ilha, levo com um balde, não de água fria que isso não é muito mau, mas com um balde cheio de m…. pela cabeça a baixo.
Já estava a imaginar… quinze dias sem olhar para o relógio, naquela praia maravilhosa, com a melhor companhia e a fazer só o que me apetecesse. No fundo, a vingar-me ao máximo deste ano que foi pode-se dizer complicado! Produtivo mas complicado!
No dia antes de ir de férias, quando já estava de mochila aviada, todas as tralhas prontas e com aquele friozinho na barriga de ansiedade e felicidade por finalmente pirar-me daqui, dão-me a notícia que eu sou uma sortuda porque vou assinar um contrato de 6 meses com uma instituição de prestígio (depois põe-me a andar) e que não tinha direito a férias, mas que sorte a minha! Na altura, com a fúria tinha a certeza que não ia aceitar! Ia-me embora! Ia mandar ao ar 6 meses de ordenado, mas as minhas férias ninguém me ia tirar! Quando a fúria passou vi que não podia ser… apesar de saber que daqui a seis meses estarei desempregada não me podia dar ao luxo de desistir. Quando os quinze dias no paraíso passassem e eu voltasse à realidade de novo ia ser duro e se calhar ia-me arrepender. Foi uma das decisões que mais me custou tomar até hoje… Se será melhor para mim só o tempo o dirá.
A desilusão não foi só para mim, mas também para o D. Nós passamos o ano todo a pensar na ilha e no fundo aqueles são os melhores dias do ano inteiro. Aquele lugar tem qualquer coisa… Assim que lá pus o pé pela primeira vez a minha vontade foi de voltar! Termo-nos conhecido na ilha também pesa para tornar o sítio especial, mas não é só isso, gosto mesmo daquilo e lá sinto-me em paz. Mas a ilha já é outra história que talvez um dia escreva.
Depois de muito chorar e pensar que aquilo não me estava a acontecer (foi surreal demais!) o D deu-me todo o apoio para assinar o contracto, apesar de eu saber que aquilo também lhe estava a custar como o raio e decidimos aproveitar ao máximo todos os fins-de-semana! A palavra de ordem à sexta-feira à tarde seria IR.
O dia que comecei a trabalhar já a contrato e não como estagiária foi precisamente a uma sexta-feira, no dia que devia estar a caminho do Algarve! Levantar-me de manhã para vir trabalhar e pensar que supostamente àquela hora devia estar mas é a rir e cantar pela estrada fora custou e não foi pouco! Eu não acreditava que aquilo me estava a acontecer!
Como combinado, nesse dia começámos logo a pensar aonde iríamos nesse fim-de-semana. Todos os sítios que procurámos estavam completamente esgotados! Segunda quinzena de Julho já se sabe, vimos logo que encontrar um bom sítio à última da hora ia ser complicado. Até que de repente (bem dita internet!) encontrámos um parque de campismo que parecia ser engraçado na zona da Zambujeira do Mar, o D telefonou, havia vagas, marcou um bangalow e aí fomos nós sexta-feira á tarde.
Apesar de tudo eu continuava triste, os fins-de-semana passam a voar e o domingo já é aquele dia que já se está a pensar na semana que aí vem, mas sem mais saída e já que era para aproveitar ao máximo tentei pôr a tristeza para trás das costas para poder desfrutar aquela migalhinha de férias que ia ter no final de todas as semanas.
Tirei algumas indicações da internet porque não sabíamos bem onde era aquilo, o D também tirou algumas indicações e quando as comparámos não eram muito parecidas, mas posso dizer que juntas completaram-se e apesar de em certos momentos não sabermos se estávamos no caminho certo chegámos lá sem grandes problemas. Assim que lá chegámos o sítio pareceu muito giro! Era um parque de campismo ecológico com uma área enorme, perdido no meio do Alentejo e de nome Zmar.
A senhora da recepção explicou-nos que tínhamos acesso à piscina, ginásio, piscina com ondas, spa (a pagar), bicicletas e actividades como o arborismo e rappel que para quem tem medo de alturas como eu é muito bom, ou seja, era o sítio perfeito para gozar uma semaninha muito bem passada. Tivemos que nos contentar com o fim-de-semana. A senhora explicou-nos também que dentro do parque não circulava dinheiro, em vez disso, davam-nos uns cartões que tínhamos que carregar com dinheiro em caixas próprias e assim pagávamos tudo o que precisássemos com os cartões, cartões esses que também eram a “chave” do nosso bangalow e serviam também para dar luz dentro de casa (como nos hotéis). Depois da explicação, que calculo que tenha sido clara porque o D percebeu tudo, e quando saímos da recepção eu estava um bocado baralhada com esta história dos cartões e o que retirei de toda a conversa da senhora foi apenas que tínhamos que carregar os cartões com dinheiro para termos luz dentro do bangalow! Eu acho que às vezes o meu cérebro desliga quando estão a falar comigo e volta a ligar passados uns segundos, e depois apanho assim as coisas a faltarem bocados. Fiquei um tanto ou quanto indignada, a pensar que já nos estavam a roubar a pedirem para pagar a luz mas como era um parque ecológico pensei que talvez fosse uma medida qualquer de poupança, obrigando assim as pessoas a gastarem menos luz já que o dinheiro lhes saía do bolso, portanto grande filme logo na minha cabeça. Aliás, isto nem fazia muito sentido porque todos os bangalows eram alimentados por painéis solares. Quando chegámos ao quarto e o D pôs o cartão na caixa suposta e eu quando vi as luzes a acenderem-se disse “então temos luz?” ele não me ligou muito porque nem sequer imaginava a confusão que eu tinha feito na cabeça! Depois lá me explicou bem a história dos cartões e eu fiquei mais descansada por não ter que pagar a luz!
Arrumadas as coisas nos sítios decidimos fumar o cigarro da chegada cá fora na nossa “varanda”, eu muito espertinha como sempre, para não entrar fumo para dentro de casa fechei a porta. Conclusão: ficámos fechados na rua (gosto muito desta expressão)! No segundo seguinte de ter fechado a porta apercebi-me da porcaria que tinha feito. Tínhamos os cartões e a chave do carro dentro da casa, estávamos os dois descalços e até á recepção ainda era um longo caminho escuro e de terra batida. Só deu p rir claro! Por sorte, quando já estávamos a pensar o que íamos fazer passou num carrinho uma senhora que era funcionária do parque e pedimos-lhe a esbracejar que parasse o carro. Explicada a situação lá nos abriu a porta e simpaticamente disse que aquilo também lhe acontecia várias vezes quando estava a fazer a limpeza aos quartos (felizmente a minha asneira não teve grandes consequências).
A casa era toda feita em madeira. Tínhamos uma sala com cozinha, casa de banho e o quarto. A cama era muito boa, era uma cama digna de se passar um fim-de-semana inteiro na ronha, mas ali era um desperdício. A única coisa que não achei muito confortável foi não haver candeeiro no quarto (eu sou a paranóica dos candeeiros), ou seja, quando estávamos quase a adormecer lá se levantava o D para apagar a luz de cima.
Como dentro do parque havia muita coisa para ver e fazer decidimos ficar por ali no sábado. Estávamos curiosos com aquela história da piscina com ondas, como seria aquilo? Acordámos cedo e fomos para a piscina normal, de água azulinha sem ondas e com um belo relvado á volta. Aí já com a luz do dia, porque quando chegámos no dia anterior já era de noite, reparámos que as instalações do parque eram realmente boas e aquele é um espaço convidativo para se estar. Tudo muito bonitinho e limpinho como se quer e a cheirar a novo!
De vez em quando lá íamos nós espreitar a tal piscina das ondas mas sempre que lá chegávamos a água apresentava-se calma como um lago e tinha uns quantos miúdos a chapinhar. Mais para o fim do dia através de conversas paralelas de vizinhos de relvado ouvimos: “então foram às ondas das cinco ou vão agora ás das seis?”, caso resolvido, as ondas apareciam às horas na tal piscina. Decidimos então ir às ondas das seis. Assim que lá chegámos a piscina estava pejada de miúdos e quando as tais ondas apareceram (uma leve ondulação) começaram todos aos guinchos. E nós a pensarmos que era uma coisa mega radical… Rimo-nos, assistimos um bocado ao espectáculo que também incluía alguns pais tontos como os filhos e voltámos para a piscina tradicional.
Uma personagem engraçada a assinalar neste dia na piscina foi um ser ao qual apelidámos de “o cuecas”, sim ele estava na piscina com umas cuecas justinhas (aquilo não era fato-de-banho de certeza!). O rapaz devia ter trinta e poucos anos e estava com a família que também era peculiar (estavam todos muito excitados de ali estarem e faziam uma grande algazarra). Ele tinha uma forma particular de andar e quando saltava para a piscina era de rir. Tinha também uma escalda impressionante nas costas mas andava ali feliz como se nada fosse.
Nesse dia jantámos no parque, o restaurante era tipo cantina, ou seja o método do tabuleiro e da filinha. As pizzas eram muito boas, o D conseguiu passar à frente de um monte de miúdos que também queriam pizzas como nós (isso n se faz) e fomos comer. Ali ficámos a beber e a conversar. No caminho para a nossa casa vimos uma raposa, eu sei que isto não é uma coisa muito emocionante mas eu nunca tinha visto nenhuma e portanto é uma coisa a reter deste fim-de-semana. O chinfrim que os grilos faziam durante a noite também era delicioso, é música de embalar para os meus ouvidos. Ouvimos também várias vezes um burro ou uma burra a zurrar mesmo ao pé da nossa casa mas não chegámos a descobrir aonde estava a criatura.
No domingo tínhamos que deixar o quarto às 11h, o D disse-me que ia pôr o despertador para as 10h. Tocou o despertador, levantámo-nos, mandámos as coisas para dentro do carro e quando já estava quase tudo pronto o D olhou para o relógio e percebeu que afinal tínhamos acordado às 9h (não sou só eu a fazer asneiras). Tudo bem, tirámos algumas coisas de comida que já estavam no lixo, como por exemplo a manteiga, o sumo e uma tortilha e já que tínhamos tempo tomámos o pequeno-almoço calmamente. Fizemos o check-out, tudo com muita tranquilidade e partimos para a praia da Zambujeira do Mar. Fomos para uma praia ao lado da principal, o que foi suficiente para haver muito menos gente. O acesso à praia também não era nada fácil, tinha-se que descer uma escadaria interminável de madeira, muitas vezes com uma inclinação um bocado assustadora. Tenho plena consciência da figura que fiz a descer aquela coisa, mas tenho um medo de alturas inexplicável.
A praia era linda, estavam poucas pessoas e o mar estava gelado (não se pode ter tudo!), lá de vez em quando passavam uns quantos nus. Percebemos depois que aquilo era uma praia naturista. Quando chegámos cá a baixo vimos que tínhamos tido uma grande falha, só levámos para o dia todo duas garrafas de água das pequenas. Bar ali não havia, subir aquilo tudo de novo, pegar no carro, ir comprar água e voltar também não estava a apetecer muito. Fomos bebendo água aos golinhos para fazer durar o mais possível o dia naquela praia.
A viagem de volta foi feita a maior parte do tempo de bico calado, já com aquele aperto no coração de saber que ia voltar à realidade. Não era suposto estarmos a voltar, não é justo.
Semana passada com um leve aperto no peito e a pensar já no destino do próximo fim-de-semana. Odeceixe! Vamos para a Pensão Luar do Sr. Raul, belo trocadilho.