quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sagres - Fds de 20 de Agosto


Fomos para Sagres. Mais precisamente para a praia do Barranco acampar selvaticamente (estou a tomar o gosto). Decidimos ir para lá quase à última da hora. A Dal e o J estavam lá mas só decidimos se íamos ou não ter com eles mesmo à última porque estávamos com um bocado de medo do tempo em Sagres. É que ali o costume é água gelada, vento e frio. Mas ainda bem que fomos! Apanhámos daqueles dias quase únicos no ano naquela zona. Que sorte!
Depois do trabalho na sexta à tarde, estrada fora até Sagres. Fomos pela auto-estrada porque a vontade de lá chegar e montar o estaminé era muita. Como há sempre qualquer coisinha que falta (se assim não for até é estranho) paragem na estação de serviço de Grândola para comprar carvão se não, não havia carnuxa para ninguém para o jantar.
Antes de entrarmos na estrada de terra batida que vai dar à praia do Barranco parámos num café para comprar umas cervejas (para nós e Dal) e umas coca-colas (para o J). Isto porque, coisas frescas nos próximos dias iam ser um luxo. Chegámos às 21.30 (recorde dos recordes). Quando entrámos na praia vimos o que parecia ser uma aldeia de auto caravanas e tendas. Andámos devagarinho com o carro por ali e lá os encontrámos num lugar fantástico com vista para o mar, ou seja, na fila da frente da “aldeia”. Pusemos as carrinhas em L e ficámos com um espaço bem aconchegante e mais ou menos abrigado. Pusemos as mesas no meio do L, arrumámos tudo e pusemo-nos a fazer o jantar. A lua estava quase cheia e fazia reflexo no mar, tínhamos uma vista privilegiada.
O churrasco foi uma invenção do caraças! Mais outra refeição maravilhosa até tivemos direito a arroz que a Dal fez no camping gaz e desta vez levámos café também. Mais uns fins-de-semana nestas condições e ficávamos prós nestas andanças (até estou a pensar comprar um frigorifico para ter no carro, isso é que era! Dava para ficarmos uns bons tempos em qualquer lado sem ser preciso ir à civilização! Desde que levássemos bastante água claro!).
Comemos e bebemos (estava-se mesmo bem ali na nossa sala de jantar!). Entretanto chegaram mais dois amigos do J e Dal. O M e a A que estavam a acampar no parque de campismo ali perto. Também se juntaram à nossa sala e ficamos ali a conversar muito embrulhados em mantas porque a noite estava fria e ventosa. O tema de conversa como sempre que estamos debaixo de um céu fantástico foi dar às mais diversas questões e teorias sobre o universo. Conversas que nos fazem sentir minúsculos e chega a dar um nó no cérebro só de tentar imaginar a resposta para tantas perguntas que ficam no ar. Quando estávamos a falar em Super Novas e em matéria e anti-matéria (não cheguei a perceber o que era) passa uma coisa no céu assombrosa! Uma mega-estrela cadente! Deu tempo para um dizer “Olha ali!” outro:”aonde?” “ali!” “AHHHH!” e ali estávamos seis pessoas boquiabertas a olhar para o céu. A estrela ainda se desintegrou em quatro bolas que continuaram a rasgar o céu atrás da primeira. E aquilo parecia que não acabava, deixámos de a ver porque desapareceu atrás do monte. Foi a coisa mais espectacular que vi até hoje no céu. Nunca nenhum de nós tinha visto coisa semelhante. Ficámos todos arrepiados.
Eram perto das 3 e tal da manhã quando nos fomos deitar.
Às 9h acordámos e a primeira coisa que fizemos foi tomar banho de mar e fazer o xixi da manhã. Ficámos muito espantados com a temperatura da água, ali em Sagres não é mesmo normal! Estava quase tão boa como em Tavira. Estar a 10 m do mar quando se acorda é das coisas melhores que pode haver. A água transparente, peixes a passarem por nós, aquela praia em estado primitivo parecia que estávamos no paraíso! Ainda bem que pouca gente sabe apreciar estes sítios e preferem praias com bares, música e 1m quadrado para estender a toalha. Continuem nesses sítios por favor! Não dei conta que estivessem ali portugueses além de nós. Tínhamos vizinhos espanhóis, ingleses, alemães, austríacos mas portugueses não vi. Nem parecia que estava no meu país.
Depois do revigorante banho matinal fomos tomar o pequeno-almoço. O J e a Dal precisavam ir à civilização encher garrafões com água e o saco de soro gigante para tomarem banho e nós decidimos ir com eles. Com medo de perder aquele lugar com vista mar não fomos nas duas carrinhas, deixamos a carrinha do D a ocupar o espaço das duas para ninguém estacionar ali. Eu e Dal fomos na parte de trás da carrinha a comer pó e a uma temperatura de 40 ºC e o J, o D e o Alex foram na parte da frente. Parámos no intermarché de Budens (nome estranho) para comprar gelo e acabámos por trazer um monte de coisas! Aproveitámos também para beber café a sério e soltar a tripa nas casas de banho do supermercado. De seguida fomos aos tanques públicos de lavar a roupa abastecermo-nos de água para banhos, louça e cão. De novo na caixa da carrinha de volta ao nosso sítio e praia.
O mar estava com aquelas ondas boas para brincar e o D passou lá horas a apanhar ondas armado em surfista sem prancha. Mesmo ao nosso lado tínhamos um casal de espanhóis tal e qual Adão e Eva só que não tinham a folha a tapar as partes pudibundas nem estavam debaixo de uma macieira, estavam mesmo a incorporar aquele espírito do paraíso. Assim que chegámos à praia e ainda estávamos a montar as tralhas ele vem na nossa direcção (naqueles trajes imagine-se! Aliás, sem trajes!) e pede-nos lume. O J emprestou-lhe o isqueiro. Isto pode parecer infantil mas deu-me uma vontade de rir! Acho esta atitude dele um bocadinho exibicionista, mas talvez seja preconceito meu. Eles estavam à vontade, nós é que nos estávamos a sentir um bocado constrangidos, é que os olhos parecem que fogem sempre para onde não devem, ainda por cima ela punha-se numas posições deitada que parecia que era de propósito! Mesmo com tudo empinado para os nossos lados. Ele já era mais mexido, punha-se a correr e a brincar com os cães de um lado para o outro com tudo a abanar. O mais giro foi quando calçou umas barbatanas pôs uma t-shirt e uns óculos de mergulho e foi para a água mas continuava sem cuecas! Estava cá com uma figurinha mesmo cómica. Não tenho nada contra o nudismo, nem acho nada mal que as pessoas o façam, só não percebo qual é a vantagem… Ainda por cima fica tudo tão feio assim destapado. Com um biquíni e uns calções de banho fica tudo muito mais composto.
Com uma rede daquelas verdes com furinhos posta por cima dos chapéus-de-sol fizemos uma barraquinha, tínhamos também feito uma espécie de muro com as pedras da praia onde prendemos um dos lados da rede e ficou ali uma casota e peras. Ficámos na praia a beber minis que tínhamos comprado a desfrutar do mar, da nossa barraca e a rir muito com os anúncios de meninas que estavam no jornal. Realmente ali havia para todos os gostos, desde rabos XXL, peludinhas, avozinhas, casadas, chinesas, africanas, ucranianas, grávidas, gordinhas, ex-transexual (ficámos a pensar o que seria aquilo!), travestis, uma que satisfazia o fetiche dos pés (???), um moço que atendia em lingerie, enfim, o que vale é que não gostamos todos do mesmo! Aqueles anúncios são qualquer coisa!
Quando a maré começou a vazar vi que estavam muitas lapas agarradas às rochas, pensei que talvez aquilo ficasse bom à bolhão pato (big buble duck, em inglês!), quer dizer só com alho e azeite porque nos faltavam os coentros, sinceramente não sei se aquilo é comível ou não. Eu e Dal agarrámos em duas facas num saco de plástico e fomos apanhar lapas. Não passou um minuto de ali estarmos e aparece uma espanhola com um saco de plástico a olhar para nós e pergunta “ Que estás recolhendo?” (não podem ver nada) “Lapas” respondeu-lhe a Dal, “ Como se hacem?” resposta da Dal “Não sei.” Ela apanhou três lapas à unha, fartou-se e foi embora. Esta gente não pode ver nada apre! O ser humano tem destas coisas, quando vê alguma coisa também quer, não sabe o que é mas isso não interessa, quer também! É como nas filas do talho, padaria ou pastelaria, se dizemos que alguma coisa que está na montra é bom e que vamos pedir a pessoa que está à nossa frente ouve e pede todos os exemplares daquilo que dissemos que queríamos. Ai as pessoas têm muito que se lhe diga! Apanhámos umas quantas, aqueles bichos agarram-se cá com uma força às rochas e também nos fartámos rápido, ainda por cima nem sabíamos se aquilo era bom. O aspecto por dentro não era dos melhores, mas para quem come caracóis aquilo não é nada!
Quando a noite começou a cair andámos 10 m e estávamos em “casa”! A Dal tomou banho mas nós não. Armamo-nos em freaks, e deixamos a nossa pele ficar a salgar até ao dia seguinte. Também sabe bem tomar só banho de mar, primeiro estranha-se depois entranha-se. Era capaz de ter ficado sem passar o corpo por água doce ainda mais uns dias. A noite mais uma vez ficou fria e ventosa. Jantámos. Acabámos por não cozinhar os bichos, deu-nos a preguiça e se calhar o trabalho não valia o pitéu. Assámos um chouriço e umas bifanas. O nosso vizinho espanhol ainda veio espreitar o nosso jantar e perguntou-nos se queríamos sardinhas! Não aceitámos não fosse ele querer do nosso chouriço! Ele era simpático e tinha uma figura cómica. Na noite anterior sem razão aparente a polícia marítima mandou-o ir embora, mas só a ele e a mais duas pessoas. Estranho… Mas ele voltou e até parecia ser uma pessoa muito tranquila.
O Alex começou-se a portar mal. Estava apaixonado por um cão que lá andava, imagine-se! Só queria ir para o pé dele e lambê-lo todo! O outro cão não estava a achar muita graça aquela perseguição e até se virou a ele! Mas o Alex mesmo assim (quanto mais me bates mais gosto de ti) não tirava os olhos do outro e cada vez que ele passava perto gania muito. O J teve que o prender e estava muito chateado a pensar que tinha um cão panisga. Na hora de dormir não queria entrar na carrinha, queria ficar na rua (parecia um adolescente rebelde a querer sair à noite), rosnou muito e ainda agrafou um dedo ao J (o amor faz destas coisas). Ficou de castigo a dormir na parte da frente da carrinha.
Estávamos todos moles e o D era o pior, estava com uma enorme dificuldade em manter os olhos abertos. Decidimos ir dormir para aproveitar bem o dia a seguir e descansarmos. O ser humano não devia ter esta necessidade de dormir… às vezes sabe bem dormir mas quando se quer aproveitar o tempo ao máximo acho uma perda de tempo. Se dormíssemos uma ou duas horas e ficássemos cheios de energia outra vez já era bom. Enfim… não fomos feitos para a vida louca e atarefada que levamos! Na maioria dos dias da semana por exemplo, tenho a sensação que os dias são muito curtos! Nunca há tempo para fazer tudo o que se queria! Não devíamos era trabalhar tantas horas! Quatro horas sempre a rasgar no trabalho já chegava! E o fim-de-semana devia ter três dias e não dois! Isso é que era! Conclusão: ESTOU MESMO A PRECISAR DE FÉRIAS!!!!!!
Apesar de nos termos deitado cedo só acordámos às 11h de Domingo, ou seja, estávamos mesmo a precisar de descansar.
O dia foi passado na praia entre banhos e já com aquela horrível sensação de ter de voltar à realidade. Ficava ali um mês naquele paraíso!
Despedi-me do mar e por volta das 6h fomos embora porque dali a casa ainda é longito e íamos pelas nacionais. A Dal e o J ficaram, que sorte! Como não tomámos banho o fim-de-semana inteiro tínhamos o cabelo rijo que nem palha a pele salgada e seca e areia em muitos lados, ficava assim mais dias, é bom.
O nosso vizinho espanhol quando nos viu a arrumar as coisas perguntou-nos se íamos ao “pueblo”, ou seja, à aldeia. Disse que estava morto por fumar um cigarro e queria que lhe comprássemos um maço. Explicamos-lhe que íamos mas não voltávamos mas como o J e a Dal iam tomar banho aos tanques públicos de Budens disseram que lhe compravam tabaco e ele aproveitou e pediu “una cervejita tanbien”.
Pelo caminho fomos conversando em coisas que nos faltam e que dariam jeito para transformarmos a carrinha numa autêntica auto caravana e podermos fazer campismo selvagem sem precisarmos de estar perto da civilização.
Parámos na Mimosa para jantar, engolimos duas bifanas cada um e seguimos viagem.
Tristeza… Ainda por cima para o próximo fim-de-semana não vamos poder ir a lado nenhum.

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